segunda-feira, 19 de março de 2012

O dia que partilhei meu guarda-chuva


Hoje quando descia para igreja debaixo de uma chuvinha, vi que ao meu lado estava um mocinha se contorcendo debaixo da pequena blusa de frio, com os braços todos molhados, enquanto eu com meu guarda-chuva família caminhávamos sozinhos pela rua.  Percebendo o erro entendi que deveria partilhar com aquela estranha minha camuflagem, mesmo que todo o clima de chuva combinasse com meu estado emocional de solidão. Sim, eu quis dividir minha solidão com ela e então comecei a pensar como a convidaria para entrar não só debaixo do meu guarda-chuva, mas naquele momento tão meu. No inicio eu estava receosa, com medo e egoísmo. Cabiam mais duas de mim mas só me decidi na pergunta “o que Jesus faria?”. Fui me aproximando até que ficarmos perto o suficiente pra perguntar “quer vim comigo? É grande”. Ela aceitou e sem dizer nada. Rasgou todo meu silêncio. Eu não vi o rosto dela, muito menos sei o nome, as poucas coisas que tive o conhecimento eram que ela vinha da zona rural e as únicas palavras que trocamos foram “tô indo pra casa da prima, mas fiquei com vergonha de pedir o motorista do ônibus pra parar só pra mim” e assim ela resolveu encarar a chuva. Sem um guarda-chuva.

Andamos poucos metros lado a lado, mas a caminhada que ela fez comigo foi muito além destes metros. A simplicidade que existiu em nossos gestos, principalmente no dela em aceitar com tanta gratidão, mobilizou-me a refletir sobre muitas coisas... Poucas vezes na vida desejei com tanta intensidade que todos os homem tivessem uma casa, um mínimo de conforto, especialmente neste tempo de chuva e frio. Porém, o mais alarmante foi eu ter que pensar se iria ou não ajudar alguém, sobretudo em um situação que só exigia gratuidade, que não arrancaria nenhuma parte do meu corpo, e acho que foi justamente por isso ficou tão difícil decidir. A dor de dentro gera em nós algo muito maior que um corte, uma perfuração. Vencer o individualismo foi muito pior que pular poças de água, que afundar na lama. Eu não mal sabia abordar-la, oferecer-lhe ajuda. Onde e quando ficamos tão mecânicos e racionais? Quando desaprendemos a gentileza tão gratuita? onde perdemos nossos extintos de ajudar nossos semelhantes? Os animais não fazem isso?

Talvez pra ela eu fui apenas alguém que fez algo legal e muito estranho, mas ela levou de mim algo muito maior que isso, maior do que eu posso explicar. Continuamos estranhas, mas não as mesmas...

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