Hoje
quando descia para igreja debaixo de uma chuvinha,
vi que ao meu lado estava um mocinha se contorcendo debaixo da pequena blusa de
frio, com os braços todos molhados, enquanto eu com meu guarda-chuva família caminhávamos
sozinhos pela rua. Percebendo o erro
entendi que deveria partilhar com aquela estranha minha camuflagem, mesmo que
todo o clima de chuva combinasse com meu estado emocional de solidão. Sim, eu
quis dividir minha solidão com ela e então comecei a pensar como a convidaria
para entrar não só debaixo do meu guarda-chuva, mas naquele momento tão meu. No
inicio eu estava receosa, com medo e egoísmo. Cabiam mais duas de mim mas só me
decidi na pergunta “o que Jesus faria?”. Fui me aproximando até que ficarmos perto
o suficiente pra perguntar “quer vim comigo? É grande”. Ela aceitou e sem dizer
nada. Rasgou todo meu silêncio. Eu não vi o rosto dela, muito menos sei o nome,
as poucas coisas que tive o conhecimento eram que ela vinha da zona rural e as
únicas palavras que trocamos foram “tô indo pra casa da prima, mas fiquei com
vergonha de pedir o motorista do ônibus pra parar só pra mim” e assim ela resolveu
encarar a chuva. Sem um guarda-chuva.
Andamos
poucos metros lado a lado, mas a caminhada que ela fez comigo foi muito além
destes metros. A simplicidade que existiu em nossos gestos, principalmente no
dela em aceitar com tanta gratidão, mobilizou-me a refletir sobre muitas
coisas... Poucas vezes na vida desejei com tanta intensidade que todos os homem
tivessem uma casa, um mínimo de conforto, especialmente neste tempo de chuva e
frio. Porém, o mais alarmante foi eu ter que pensar se iria ou não ajudar alguém, sobretudo em um situação que
só exigia gratuidade, que não arrancaria nenhuma parte do meu corpo, e acho que
foi justamente por isso ficou tão difícil decidir. A dor de dentro gera em nós
algo muito maior que um corte, uma perfuração. Vencer o individualismo foi
muito pior que pular poças de água, que afundar na lama. Eu não mal sabia
abordar-la, oferecer-lhe ajuda. Onde e quando ficamos tão mecânicos e
racionais? Quando desaprendemos a gentileza tão gratuita? onde perdemos nossos
extintos de ajudar nossos semelhantes? Os animais não fazem isso?
Talvez
pra ela eu fui apenas alguém que fez algo legal e muito estranho, mas ela levou
de mim algo muito maior que isso, maior do que eu posso explicar. Continuamos
estranhas, mas não as mesmas...
issso não é uma mulher não gente.,...rsrsrs ...s2
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