
(Elizabeth Gilbert e Felipe)
"Não era um listra atraente. Foi doloroso ler e, com certeza nunca tinha codificado as minhas falhas para alguém com tanta franqueza. Mas, quando fiz a Felipe esse inventário de defeitos de caráter lamentáveis, ele aceitou a notícia sem inquietude visível. Na verdade, só sorriu e disse:
-Agora, há alguma coisa que você queira me dizer a seu respeito que eu ainda não saiba?
-Você ainda me ama?- perguntei.
- Ainda confirmou ele.
- Como?
Porque essa é a pergunta essencial, não é? Quero dizer, depois que a loucura inicial do desejo passou e ficamos um de frente para o outro como idiotas mortais e meio estúpidos, como é que conseguimos ter capacidade de amar e perdoar o outro e, mais ainda, de forma duradoura?
Felipe levou um tempão para responder. Então disse:
- Quando eu ai ao Brasil comprar pedras preciosas, costumava comprar um "pacote". O pacote é um conjunto aleatório de pedras reunindo pelo mineiro, elo atacadista ou por quem quer que esteja enrolando o comprador. Um pacote tópico contém, sei lá, talvez umas vinte ou trinta águas-marinhas de uma vez. Supostamente, comprando assim, tudo junto, saimais barato, mas é preciso tomar cuidado porque é claro que o camarada está querendo nos passar a perna. Está tentando se librar das pedras ruins misturando-as com algumas que são mesmo boas. "Então quando comecei no negocio de jóia", continuou Felipe, "costumava me dar mal, porque me empolgava demais com uma ou duas águas-marinhas perfeitas do pacote e não dava muita atenção ao lixo que vinha misturado. Depois de ser enganado várias vezes, acabei ficando esperto e aprendi: a gente tem de ignorar as pedras perfeitas. Nem olhe duas vezes, porque elas deixam a gente cego. Basta colocá-las de lado e olhar com atenção as pedras piores. Examine-as por um bom tempo e depois pergunte francamente a você mesmo: 'Dá pra trabalhar com essas? Dá pra ganhar alguma coisas com elas? Senão, a gente acaba gastando um monte de dinheiro com uma ou duas águas-marinhas enterradas num montão de lixo inútil.
"Nos relacionamentos, acho que é a mesma coisa. Todo mundo se apaixona pelos aspectos mas perfeitos de personalidade do outro. Quem não se apaixona? Todo mundo consegue amar as partes maravilhosas do outro. Mas isso não é ser esperto. O truque esperto é o seguinte: dá pra aceitar os defeitos? Dá para olhar francamente os defeitos do parceiro e dizer: 'Isso dá pra contornar. Dá pra ganhar alguma coisa'? Porque o que é bom estará sempre ali e sempre será bonito e brilhante, mas o lixo que está por trás pode acabar com a gente.""
Nossa!! Sem palavras... ♥
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