Despertara

 Ela pensava nele e sorria tanto que suas bochechas começaram a doer. Pensava nele e olhava a paisagem pela janela borrada do ônibus, ele não passava -estava sempre com ela. Meu Deus, ela não sabia que era possível aquilo, aquilo você sabe... gostar de alguém assim. Em sua memória sobrevinham memórias das risadas, dos beijos, dos silêncios que eles fazim juntos e das brigas, até delas... E ela, simplesmente, sorria. Sorria como uma criança que ganhou a boneca mais bonita. Cá entre nós ela o amava, ou melhor nasceu para amá-lo, tanto que não consegiu escapar do sorriso dele, do jeito, da teimosia, ela amava tudo nele. Se você perguntar a ela onde você quer morar, menina? Ela te responderá "quero viver nos braços dele, com meu ouvido recostado sobre seu coração", e quando pensava nisso sorria ainda mais e mais, acho até que ela conseguia ouvir cada uma daquelas batidas. Subtamente fechou o sorriso, ela deve ter se lembrado de algum assunto mal resolvido, uma ligação não atendida, ou um abraço rápido demais. Mas ela o amava, o perdoara por todas as incompreensões, pelo tempo mal gasto, beijo não dado, mão solta demais, perdoo-o dexando-o livre das tantas cobranças que as pessoas do nosso tempo fazem, ela entendia que nem sempre dá por outro atender, pelo menos nem sempre do jeito dela. Mas não tardou e ela sorriu de novo, largamente, sem nenhuma fronteira, aproximando assim todas as distâncias, foi quando despertara: suas bochechas começaram a doer e ela percebeu que pensava nele e sorria.